Abri o facebook e as páginas de três jornais de grande circulação que
sigo anunciavam: Fátima Bernardes e Willian Bonner se separaram. Como sempre faço quando vejo essas notícias de términos célebres, fui
dar uma lida nos comentários e, conforme o esperado, eram do tipo “o mundo está
acabando”, “não acredito, um casal tão perfeito” e, a de praxe, “meu Deus, se
eles se separaram, quem sou para acreditar no amor?”. Não, não sou do tipo
urubu que gora relação alheia e gosta de ver o mal feito. Mas, se você é meu
amigo no facebook (ou na vida), já deve ter me lido, ao menos uma vez, pedindo em caps
lock: POR FAVOR, PAREM DE ROMANTIZAR RELAÇÕES ALHEIAS.
É um fenômeno. Basta um casal que mantém sua privacidade no lugar dela –
e que não divide com o público (se famosos) ou com os colegas (se de carne e
osso) as intempéries da relação – se separar, que começa a enxurrada de
mensagens shippando a volta dos pombinhos. Vai de um simples “que
pena, formavam um lindo casal” às
reações mais calorosas, o
que só denuncia o quanto se idealiza no outro a perfeição no relacionamento. Dá uma tristezinha ver casais que dividiram uma vida por anos se
separando? Dá sim. Mas, quem pode garantir que aquela relação era tão
maravilhosa quanto nos parecia? O término de um relacionamento nunca é fácil.
Os bons e o ruins. De nada ajuda, neste momento de fragilidade, ouvir
comentários sobre o quanto o namoro/noivado/casamento que se terminou era bom.
Se olhássemos de forma crua e nua, a pergunta mais óbvia de todas nem
precisaria ser feita: quem sabe se a relação tinha que chegar ao fim ou não?
Você ou quem está na relação?
Lembro de quando terminei meu namoro de quase três anos. De fato, éramos
um casal que se dava bem e as pessoas se realizavam na nossa felicidade. Porém,
como acontece todos os dias no mundo, fomos entrando em sintonias diferentes e
fatores fizeram com que concluíssemos que o nosso ciclo juntos já tinha chegado
ao fim. Foi um término harmonioso. O que não significa que, até se chegar a
ele, não tiveram brigas e momentos difíceis. Vários. E me lembro muito bem de
ter recebido algumas dessas mensagens. Sei que as intenções eram boas. Mas,
naquele momento, não queria que nossa decisão, que nem era tão unânime ainda,
recebesse uma pitada a mais de dúvidas ou uma qualificação. Doía. No meu caso, foi algo contornável, pois nos respeitamos muito nesse
término. Esse tipo de comentário só deu aquela fincadinha a mais no coração que
eu já sentia por não ter dado certo por mais tempo. Mas, há outros, em que essa
invasão travestida de apoio, pode ser danosa. Quando se termina um relacionamento
abusivo, por exemplo.
A maioria das relações abusivas cabem perfeitamente
nessa visão de casal perfeito.
Quem abusa, quase nunca o faz em público ou expõe nas redes sociais toda a
violência física e/ou psicológica que pratica livremente quando a dois. Conheço
casais que, ao olhar dos outros, eram conectados, em sintonia, feitos um para o
outro e, na intimidade, nossa, de partir o coração. Um era sempre subjugado,
desacreditado, humilhado… e, estamos há tempo suficiente falando sobre isso
para sabermos que é MUITO difícil sair de uma situação de abuso.
Pois bem, uma amiga que viveu algo do tipo, quando finalmente conseguiu
dar fim àquele tormento que ela acreditou por muito tempo ser a única forma de
relação, ao tirar o tal do “em um relacionamento sério” da rede, se deparou com
vários “ahhhh eu achava vocês tão bonitinhos”. Li muitos do tipo e mandei todos
pro inferno mentalmente, confesso. As pessoas NÃO FAZIAM IDEIA do que acontecia
na relação, no quão fragilizada minha amiga estava e que ainda, ela mesma, não
tinha forças para, sozinha, enxergar o quanto aquilo tudo estava acabando com
ela. Eram meses se exercitando a aceitar que aquilo não era algo legal, que
aquela relação não a fazia bem, que o pedido de desculpas dele e a promessa de
mudança eram vazias. E, quando, finalmente, ela conseguiu dar esse passo,
amparada por pessoas que estavam ao seu lado, vem algumas dezenas de outras
enfiar na cabeça dela que, uau, era uma relação linda sim. Todo mundo – que não
estava MUITO perto – concordava. “Talvez,
ele não seja tão escroto assim, a gente se divertia sabe. As pessoas nos
achavam lindos”. Claro que isso contribuiu para algumas recaídas e
muitos meses a mais de sofrimento. Mas, no fim, o amor (dos amigos e
familiares) venceu.
Então, novamente minha gente, vamos
parar de emitir opiniões sobre o que não é de nosso conhecimento. Por favorzinho. Se for tão necessário assim demonstrar solidariedade,
apoie a pessoa. Ofereça um ombro amigo. Chame-a para um café e a ouça. Como é bom ter alguém que nos ouça
nesse momento! Mas não projete seu ideal nos outros. A maioria das pessoas
sonha em viver um grande amor, a gente sabe. Mas, vamos ter em mente que
relações, mesmo as incríveis, tem seus altos e baixos, dúvidas e medos. Que, às
vezes, o que se mostra não é, necessariamente, o que se é (se eu não tivesse
saído do colegial há tanto tempo, até lembraria umas coisinhas de Platão pra citar). Vamos
sonhar, mas, só com o que nos cabe. E
acreditar no amor sim, naquele que você – e não terceiros – pode viver, porque
ele se manifesta de inúmeras formas, inclusive, nessa graminha que
você tem no seu quintal e que pode parecer mais rala, porém, sem o photoshop que é estar do outro lado da
cerca.
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