Não sei quem disse essa frase.
Mas, sempre que penso sobre esse sentimentozinho tão procurado, é ela que me
vem à mente. Diz para mim, quantas definições você já não leu? Quantos guias do
relacionamento perfeito já não foram compartilhados redes à fora? Às vezes,
vejo alguns textos rodando que descrevem as relações de forma tão romantizadas,
que me dá uma certa tristeza. Mas, eu entendo. Entendo porque, no fundo, todo
mundo gostaria que relacionamentos fossem coisinhas lineares e que, seguindo um
manual, surgiria o ‘felizes para sempre’ como mágica. Só que nesse ideal, a
vida a dois se torna cada vez mais volátil.
Quando nos relacionamos,
precisamos compreender que cada ser é único e que aquela pessoa por quem nossos
olhos brilham tem pensamentos próprios, individualidade, um universo inteiro na
cabeça e uma bagagem nas costas. A mala vem cheia de vivências que moldaram pouco
a pouco sua forma de agir e sentir. Às vezes é algo bom, às vezes não. E é
preciso saber lidar com isso. Medos, anseios, desejos, paixões - o mesmo serve
para o outro em relação a nós. É necessário muito mais do que
aquele frio na barriga da conquista. Para amar é preciso conhecimento. Conhecer
a nós mesmos e tentar conhecer quem está ao nosso lado (porque, sabemos, é algo
que nunca vai rolar 100%). E isso só é possível com muito, mas, muito diálogo. O
amor passa pela liberdade e vontade de conversar sobre tudo. Interesses, clima,
esportes, política, ideologias, defeitos, críticas, passado, presente e futuro. É muito bom quando
seu namorado/a se torna um grande amigo. Poder tomar aquela cerveja, ouvindo
música e papeando por horas com o parceiro é impagável. E dizem por aí que,
depois de alguns anos, isso é o mais importante numa relação.
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Ilustração: Philippa Rice |
Vejo muita gente falando de
reciprocidade e não praticando. Exigindo maturidade e dedicação e não
confiando. Cansa ver tantas pessoas legais e interessantes tendo seus corações
partidos por falta de carinho e cuidado. E, sabe, parece que cria-se um ciclo.
Alguém legal é magoado por um/a cretino/a, sofre, cria uma armadura de medos e,
quando finalmente conhece outro alguém legal, disposto a lhe oferecer o que
sempre desejou ter, aciona a armadilha automaticamente. E aí, já viu né (isso
rende um texto inteiro). Às vezes, para viver um relacionamento saudável é
preciso enfrentar os próprios monstros. “Ter fé e ver coragem no amor”, já
dizia Los Hermanos.
Tem que saber que nem todos se
expressam da mesma forma. Que nem todos reagem da mesma maneira. Que enquanto
você marca o/a parceiro/a em todos os gifs fofos e manda músicas românticas, o
outro pode dizer que ama quando divide com você um projeto pessoal. Que
enquanto você pode querer resolver as crises em uma conversa imediata, o outro
prefere passar dias em silêncio, apenas para não magoá-lo/a com as palavras
erradas ditas com a cabeça quente (o que não significa que ligar o foda-se para
a necessidade do companheiro seja ok). Que o sentimento não deve ser medido
pela quantidade de fotos postadas nas redes sociais. Que se você não admira
esse ser que escolheu para dividir a caminhada, vai ser difícil conhecer novos
horizontes ao lado dele... E, voltando à frase inicial, saber respeitar todo
esse universo que já existia antes de você: família, amigos, trabalho, hábitos.
Só que nem sempre vai ser fácil.
Manter um relacionamento exige paciência e podem aparecer desafios e circunstâncias
desfavoráveis. Então, surgirão dúvidas, decisões e, às vezes, aquela vontade de
fugir de tudo. Esses costumam ser momentos bem cruciais. Aí tem que parar e
respirar. Pensar no que os levou até aquele ponto, e compreender que, em alguns
momentos, amar também requer esforço - o que é diferente de se forçar. Exercício, mesmo. Costumo dizer que só cresce o que alimentamos. Lembrar do que te fez amar esse alguém, suas qualidades, os momentos compartilhados e refletir se essa vontade de desistir é falta de sentimento ou só medo do novo. A mente, quando não consciente, pode se tornar a maior inimiga do amor. Quando enfrentam um desafio juntos, se tornam mais fortes e dispostos para enfrentarem os próximos, porque eles existirão.
Na verdade, amor só existe com empatia.
Querer para o outro o que deseja para si mesmo e, sempre que puder, calçar seus
sapatos. Não se deixar levar pelos “guias práticos” nos momentos difíceis e
sempre questionar as ações pela ótica do amado/a. Esse é o verdadeiro carinho,
sabe? Declarações fofas e surpresas são agradáveis e bem vindas, claro, mas,
ter alguém ao lado que te apoia, te impulsiona, acredita em você e te ajuda a
superar seus medos é a maior demonstração de todas. E você sabe que ama quando
deseja ser essa pessoa também.
Então, deixe de lado o senso
comum. Relacionamento é, antes de tudo, uma caminhada que fazemos em direção ao outro e
vice-versa. Com equilíbrio, tropeços, respeito, afeto e vontade, ambos se encontrarão na
metade do percurso e, a partir daí, poderão andar de mãos dadas, lado a lado,
numa estrada muito maior.
Ah, e acreditem, isso não é um manual. É uma declaração.
Adoro esse seu texto. Adoro, aliás, sua escrita. Concisa, leve e fluída. Me lembra um autor cubano que gosto muito. Parabéns!
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